I N E X I S T A

Vincent and the Girl from Outside the Universe

...

 

VINCENT AND THE GIRL FROM OUTSIDE THE UNIVERSE

Tarde da noite de sexta-feira e Vincent passeava sozinho à beira do oceano. Bela praia tinha à sua frente, tão bonita quanto à luz do dia. Para Vince, a noite cedia ao mar uma característica misteriosa. Quase a mesma sensação de dar às costas a um quarto escuro e sentir um frio na espinha, como se algo o observasse lá do fundo. Vince era um rapaz de estranhas ideias e opiniões. E não se importaria de contrariar milhões de pessoas por uma ideia, se ao menos tivesse alguma de valor. Já tinha até perdido uma namorada por causa dessa característica (ainda bem que ela era uma puta estúpida).
Pensou em tirar os sapatos, atravessar descalço a areia e mergulhar nu no mar. Desistiu rápido. A noite apresentava-se especialmente fria e nebulosa, motivo suficiente para não mergulhar. No céu não havia estrelas, mas nuvens aparentemente carregadas. Era difícil ter certeza, pois à noite as nuvens leves e carregadas têm praticamente o mesmo aspecto. Viria chuva, pensou, como meteorologista amador. E veio um sereno. Se fosse meteorologista profissional teria vindo chuva. Vincent permaneceu frente à praia, levando sereno, olhando o mar que parecia um imenso abismo de negritude infinita prestes a sugá-lo às suas entranhas de gravidade máxima, reduzi-lo a um ponto mínimo de massa imensamente densa e...
— Boa noite.
Uma voz feminina, pronunciando “boa noite”, trouxe Vincent de volta à praia e ao sereno.
— Boa...
Respondeu, desinteressado, ainda mirando o mar. A voz continuou.
— Também gosto de observar essas cousas.
— É, acho que o mundo foi bem construído... — Disse Vince, estranhando o jeito de falar da moça que surgira do nada. Ela completou:
— Quando vejo esse mar, tento imaginativar tudo quanto o compõe de forma discreta, assim, lá na estutrura fundamental, entende? Tem as gotas, o sal, as molécolas e o átomo. E este ainda se dividendo em prótos, neutros e elétricos. Como se não bastasse, depois disso ainda temos quacks e o etc.
Vince entendeu, mas só depois de fazer uma interpolação sintática no que havia escutado. E que sotaque esquisito. Pensou se responderia ou não. A moça era de uma baixa concentração de melanina, altura mediana. Vestia um uniforme escuro colado com uma armadura leve nas regiões do quadril, costelas e busto. Mochila de aparência metálica anexa às costas. Os lábios beijáveis, nariz com uma pequena cicatriz, cabelos curtos e verdemente coloridos.
Alguma doida que acabara de sair de um evento de anime e mangá.
Ele conteve uma risada e respondeu:
— É, parece que sempre descobrem alguma coisa ainda mais estranha lá no fundo...
E houve silêncio...

 
(... constrangedor)

 
— Ainda assim, mesmo esses objetos femtoscópicamente pequeninos são capatazes de reger o cosmos, a vida das estrelas, o processamento do raciocínio.
Ela atirou uma pedra em trajetória parabólica na direção do mar e continuou:
— Será que essa pedra causa uma tormenta no Pacífico?
A moça não dirigira o olhar a Vincent em nenhum momento. As pupilas perdidas no mover caótico das ondas. Ela detinha certo conhecimento sobre o universo, era perceptível, além de uma mente curiosa e indagadora. Provavelmente bêbada.
— Acho difícil. Até porque esse é o Atlântico... — Respondeu Vince, com um sorriso.
A moça agora observou Vince profundamente. Olhar de assassinato.
— Sempre confundo.
Ela manteve-se por algum tempo, o olhar assassino variando gradualmente até um mais sereno. Quase sorriu. Mas virou o rosto e assumiu uma expressão preocupada. Vince concordou consigo mesmo que não houvera encontro mais esquisito em toda sua vida.
— Você já calculou a bropabilidade da sua existência?
Vince não havia feito isso, então deixou a moça continuar.
— Nós só existimos porque em algum momento espefísico de toda a historia, duas não menos espefísicas pessoas ocorreram de estar em um mesmo local em todo o espaço! E se a gente contasse com as chances de nossos pai e mãe e os anteriores existirem e todos os pequenos factos que os levaram a fazer o que foi feito? É difícil imaginar. Às vezes eu acho que qualquer palavra dita ou cousa feita vai salvar alguns e matar outros.
Uma onda mais forte foi capaz de chegar aos pés dos dois, fraca, mas persistente.
— Fazer qualquer mudança é como jogar mil dados e esperar uma combinação em especial...
Vince concordou com a cabeça. Achou que seria interessante entender porque a moça falava aquilo. Mas antes decidiu saber quem era ela.
— Posso saber seu... — Mas foi interrompido.
— Você vê aquela luz? — Ela falou, bem rápido, apontando na direção da separação entre o mar e o céu, os olhos arregalados.
Vince fez cara de tédio, olhou e nada viu além de um breu. Doida! Ela manteve o braço erguido por algum tempo. Depois parou, fitou Vince, ficou pensativa. Voltou a olhar vagamente para o mar.
— Talvez 2 minútunos...
Aqui, Vincent começou a ficar preocupado. Quanto álcool teria a moça consumido? Ela já falava de um jeito entrangolado e agora começava a delirar em alucinações. Decidiu perguntar com jeitinho...
— O que você bebeu?
Um soco.
— Nada! — Respondeu a moça, enquanto Vince caía para trás, vítima de um gancho de direita.
Agora ele via a luz. Sério. O ponto luminoso sobre o mar, aproximando-se celeremente da praia. Ainda parecia longe, mas sua distância decrescia com o quadrado do tempo. A moça olhou para Vincent, sentado na areia, uma expressão de pura perplexidade. Na perspectiva de Vince, o unive r ss o f o i tor n a a an do -sse men oss c o e r een t e !
Uma esfera gigante de luz, maior do que ele. Próxima, o brilho o cegava. Por que não fechar os olhos?
Subitamente, a esfera tornou-se escura. O transiente de dilatação das pupilas, enquanto a esfera flutuante absorveu o ambiente e desapareceu.
Sua visão ainda era embaçada e o mundo ao redor de Vince iniciara um movimento helicoidal uniforme.
— Pode me chamar de Valentina...
Ele escutou uma voz distante dizer que era Valentina, mas já não reconhecia a origem dos sons, estava perdendo os sentidos. Porém, teve a impressão de que era a voz da moça dos cabelos verdes, leitora de ficção científica, pseudo-intelectual, totalmente bêbada.

continua...
In the next chapter: Vince acorda de um sono profundo para mais um dia de rotina. Mas há um estranho envelope e um chaveiro de estrelinhas sobre a mesa da sala...
A LETTER TO THE IRRELEVANT GUY WHO DESTROYED THE WORLD

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